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Vozes do Multilinguismo: Dra. Rosângela Morello (IPOL) | Parte 1 2v3kp

Por Leonardo Alves e Caroline Schirmer Götz kxw

O multilinguismo é um fenômeno complexo, atravessado por dinâmicas históricas, políticas e sociais que determinam o status, a circulação e a valorização das línguas em diferentes contextos. Nesta série de entrevistas, membros do GT Geopolíticas do Multilinguismo se revezam para dialogar com especialistas de diversas áreas, explorando as interseções do multilinguismo com tradução, direitos linguísticos, mediação intercultural, migrações, internacionalização, informação e comunicação, ensino de línguas, entre outros temas.

O objetivo é reunir diferentes perspectivas sobre as políticas linguísticas, os desafios da preservação e revitalização de línguas, as relações entre idiomas em espaços de fronteira e a influência de fatores geopolíticos na organização do multilinguismo. A partir dessas conversas, buscamos ampliar o debate e fomentar reflexões críticas sobre os modos como as línguas circulam e se transformam no mundo contemporâneo.

Nesta edição, entrevistamos Rosângela Morello, Doutora e Mestre em Linguística pela Unicamp, com doutorado-sanduíche na Universidade Paris VII. Licenciada em Língua e Literatura Portuguesa, é diretora do Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Políticas Linguísticas (IPOL) e vice-líder do Grupo de Pesquisa CNPq: Observatório de Políticas Linguísticas. Representa o IPOL no Grupo de Trabalho Nacional para a Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032) da UNESCO. Atua em políticas linguísticas e educacionais, mapeamento de línguas, diagnósticos sociolinguísticos e coordena projetos voltados à valorização de línguas indígenas, de imigração e de fronteira.

Fonte: GT Geopolíticas do Multilinguismo.

Para além de uma “influência”, considero mais apropriado pensar em confrontos de ideias e deslocamentos de conhecimento que se produzem de forma dialética, pois é dessa maneira que tenho experienciado o trabalho com políticas linguísticas. Ao longo do meu percurso acadêmico, conceber programas e projetos em prol das línguas e de seus falantes no Brasil ou a ser, simultaneamente, parte da minha formação e atuação. Contribuir na área de políticas linguísticas, especialmente no âmbito do IPOL, significa imaginar e formular políticas enquanto, ao mesmo tempo, se trabalha para sua implementação. Reduzir a política linguística à “aplicação” de algo – como uma lei, por exemplo – é limitar-se aos aspectos pragmáticos de execução, quando, na verdade, a criação de uma nova política exige articular conhecimentos de diferentes áreas para fundamentar demandas e viabilizar ações do Estado. Esse processo é profundamente formativo e, por vezes, disruptivo.

Essa disrupção e a interdisciplinaridade também fazem parte da minha trajetória profissional, no âmbito da política linguística que, enquanto campo de decisões sobre as línguas, é um tema relativamente recente no Brasil, ganhando visibilidade nos anos 1990, a partir dos debates sobre repressão linguística e o monolinguismo do Estado brasileiro – discussões impulsionadas especialmente pelo professor Gilvan Müller de Oliveira, que trouxe à tona essa problemática ao articulá-la com pesquisas desenvolvidas em outras partes do mundo, sobretudo com base nos estudos de Louis-Jean Calvet. A inserção da política linguística como disciplina nos currículos universitários, no entanto, só ocorreria mais tarde, a partir dos anos 2000, o que acarretou uma impossibilidade de formação acadêmica nessa área para minha geração.

Apesar disso, vivíamos um momento de intensa politização em torno da língua portuguesa, suas variedades e processos de normatização no Brasil. Esses debates atravessavam o ensino de língua nas escolas e geravam inúmeras inquietações. Foi nesse ambiente que comecei minha trajetória: enquanto cursava Letras em Colatina (ES), lecionava Língua Portuguesa e Matemática em uma escola rural, vivenciando de perto essas tensões.

Após concluir a graduação, ei a frequentar disciplinas como aluna especial no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL/Unicamp) e fui selecionada para o curso de especialização A Trama da Linguagem na Escola, ministrado por docentes dessa instituição. Em seguida, ingressei no programa de Pós-graduação em Linguística.

O ambiente acadêmico fervilhava com programas e projetos de pesquisa sobre português brasileiro versus europeu, norma escrita, história e contato de línguas, discursos e ideologias, filosofia da linguagem, literaturas, entre outros temas. Além disso, os Seminários de Pesquisa do Laboratório de Estudos Urbanos (LABEURB), coordenado na época pela professora Eni Orlandi, proporcionavam um espaço de intensos debates. Nesse contexto, desenvolvi pesquisas em Análise de Discurso e História das Ideias Linguísticas no Brasil, focando na língua usada em contextos rurais (mestrado) e na constituição do saber sobre a língua portuguesa no Brasil (doutorado). Paralelamente, participava de discussões sobre a formação social, econômica, política e linguística do país, contribuindo também com o Grupo de Pesquisa da Comissão de Vestibulares da Unicamp.

Em 2000, ei a integrar formalmente a equipe de pesquisadores do LABEURB, enquanto atuava como docente em universidades. Durante toda essa trajetória, buscava respostas para questões profundamente ligadas à minha história de vida: ser mulher, professora, pesquisadora, autora, nascida em uma região rural e movida pelo desejo de “mudar o mundo”. Foi nesse percurso que encontrei na política linguística um espaço de reflexão sobre a diversidade de línguas no Brasil e sobre as políticas de silenciamento promovidas pelo Estado. Descobrir que o lugar onde nasci – Novo Brasil (ES) – havia recebido esse nome na década de 1940, em substituição a “Nova Itália”, como parte da repressão aos descendentes de italianos, foi um momento marcante nessa jornada. Já em 2004, ei a integrar a equipe do IPOL, assessorando o Programa das Escolas Interculturais Bilíngues de Fronteira. Desde então, o IPOL me faria viajar através de fronteiras, entre países e línguas, para tudo ser, sempre, travessia.

Em um país de tradição monolíngue como o Brasil, os desafios se apresentam em diversas frentes. Um dos principais é a sensibilização contínua sobre o que é o multilinguismo e quais são suas potencialidades para a sociedade. Outro é a própria gestão do multilinguismo no âmbito do conhecimento e das políticas públicas – uma tarefa que demanda atenção constante.

Além disso, é fundamental avançarmos em políticas linguísticas que não se limitem a categorias específicas de línguas – como as indígenas, alóctones ou de sinais –, mas que levem em consideração as condições sócio-históricas que atravessam os falantes de todas essas línguas. O IPOL trabalha especificamente com o conjunto das línguas brasileiras, reconhecendo tanto sua diversidade tipológica (indígenas, alóctones, de sinais, afrobrasileiras, crioulas) quanto sua distribuição geográfica e demográfica.

Essa abordagem se reflete nas três principais frentes de atuação do instituto: a cooficialização de línguas por municípios, o Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL) e as políticas linguísticas por reparação aos processos históricos de repressão e extermínio de línguas pelo Estado brasileiro desde o período colonial. Cada uma dessas frentes traz desafios que não dizem respeito apenas a uma ou outra língua, mas ao conjunto do nosso patrimônio linguístico – e que, portanto, merecem ser pensados de forma articulada.

Tomemos como exemplo a cooficialização que hoje é matéria legislativa em 79 municípios brasileiros, os quais devem avançar para a regulamentação e implementação das leis. Se observamos o quadro de línguas cooficializadas, somando hoje 60 línguas, teremos cenários interessantíssimos para a regulamentação de políticas linguísticas: há municípios que cooficializaram várias línguas alóctones ou então indígenas; há uma mesma língua cooficializada em muitos municípios; há municípios com apenas uma língua cooficializada além da língua portuguesa. Existem, ainda, municípios com um número expressivo de falantes de línguas indígenas e alóctones, mas que oficializam apenas línguas de uma destas categorias.

É certo que cada município tem autonomia para desenhar suas ações, porém todos se beneficiariam se pautassem medidas conjuntas para avançar na promoção do multilinguismo – além de poder dar atenção a uma ou outra língua. Consideremos, por exemplo, as dificuldades em se avançar em uma educação multilíngue em um sistema de ensino público que só contempla duas posições para ensino de línguas: a posição de língua materna, ocupada sempre pela língua portuguesa, definida como língua de todos os cidadãos brasileiros, e a posição língua estrangeira, hoje novamente ocupada prioritariamente pelo inglês. No entanto, se a cooficialização quer garantir que outras línguas brasileiras sejam contempladas no sistema de ensino, que soluções precisam ser dadas? Tais soluções se coadunam com a manutenção dessa estrutura binária língua materna versus língua estrangeira ou seria necessário superá-la?

Nosso papel no IPOL tem sido o de evidenciar essas demandas, comuns a todas as comunidades linguísticas, buscando pautar os entraves e pensar em soluções com a maior abrangência possível, o que envolve as lideranças das comunidades, os gestores de políticas públicas e pesquisadores no processo. Por isso, realizamos o I Encontro Nacional de Municípios Plurilíngues (ENMP) em 2015 e, agora, o II ENMP, que acontecerá nos dias 1º e 2 de setembro de 2025.

Embora eu tenha destacado a cooficialização, desafios semelhantes se colocam nas demais frentes. No caso das políticas de reparação, é urgente avançar na articulação entre políticas linguísticas e memória social – uma dimensão essencial da proposta da Nota Técnica sobre justiça linguística. A história de proibição e extermínio de línguas está estreitamente ligada ao racismo, aos preconceitos linguísticos e à desvalorização do outro  aquele subjugado, escravizado, e que pode ser exterminado, pelo processo da colonização. A reparação desse dano exige ações coletivas e integradas, inspiradas na justiça transicional e nos mecanismos adotados em contextos de genocídio. Há, portanto, um conjunto de conhecimentos e políticas a serem mobilizados para avançarmos no propósito da Nota Técnica, que beneficiarão o conjunto das línguas brasileiras.

Por tudo isso, é possível afirmar que um dos maiores desafios do IPOL tem sido justamente pautar políticas linguísticas sob perspectivas que exigem o deslocamento de crenças e práticas enraizadas ao longo da história. Paralelamente, seguimos executando projetos, consolidando políticas, produzindo conhecimento e, a partir disso, abrindo novas possibilidades de atuação.

Como mencionei anteriormente, o Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL) é uma das principais frentes de atuação em políticas linguísticas do IPOL, ao lado da cooficialização de línguas em municípios e da elaboração da Nota técnica Conscientização do direito humano à diversidade linguística e formas de compensação pela história de repressão linguística no Brasil desde o início do processo de colonização. Essa nota orienta políticas públicas voltadas à reparação por parte do Estado brasileiro frente à repressão e ao extermínio de línguas.

A criação do INDL representou um avanço importante nas políticas linguísticas brasileiras. Destaco três pontos principais:

Primeiro, o INDL foi a primeira política pública de alcance nacional voltada ao reconhecimento de todas as línguas brasileiras, não apenas das indígenas, como previsto na Constituição Federal de 1988. Ele ampliou a atuação do Estado e ou a ser gerido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), reconhecendo a diversidade linguística como patrimônio cultural imaterial.

Em segundo lugar, vale lembrar que sua origem remonta a 2004, quando o IPOL peticionou à Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados para que o Ministério da Cultura, então liderado por Gilberto Gil, abrisse o Livro de Registro das Línguas Brasileiras. A solicitação desencadeou debates públicos e audiências como o Seminário para a Criação do Livro de Registro das Línguas, em 2006, que resultou na criação do Grupo de Trabalho para a Diversidade Linguística (GTDL). Esse grupo – formado por representantes da sociedade civil e do governo federal – elaborou, em 2007, o Relatório de Atividades com a proposta metodológica do INDL.

O terceiro ponto é justamente essa metodologia inovadora, voltada ao uso e circulação das línguas, à sua vitalidade e à sua valorização pelos falantes. O GTDL propôs uma classificação das línguas brasileiras em cinco categorias: indígenas, de imigração (alóctones), de comunidades afro-brasileiras, de sinais e crioulas, além da língua portuguesa com suas variedades. A metodologia, aplicada em projetos-piloto, buscou respeitar as diferenças entre línguas em risco de extinção (com pouquíssimos falantes), línguas com falantes concentrados em uma localidade ou região e línguas com grande população e extensão territorial. Essa abordagem, descrita nos Guias de Pesquisa e Documentação do INDL, tornou-se referência para o Brasil e também para outros países, inclusive para a UNESCO. O guia está disponível neste link.

Participei representando o IPOL no GTDL e coordenei o Inventário da Língua Guarani-Mbya, um dos projetos-piloto na categoria de línguas indígenas com ampla distribuição territorial e populacional. Os desafios foram grandes: desde a definição dos instrumentos de pesquisa e das terras indígenas a serem visitadas até a organização logística e a consolidação de relatórios. Essa experiência permitiu um olhar profundo sobre cada etapa do processo e nos qualificou para coordenar outros inventários, como os do Hunsrückisch, da LIBRAS, do pomerano e, mais recentemente, do polonês.

A atuação do IPOL, como proponente e executor dos inventários, segue uma perspectiva colaborativa em todas as fases do processo, incluindo a publicação dos resultados. Isso gera impactos significativos, especialmente na formação de pesquisadores por meio de parcerias com universidades e prefeituras. Por exemplo, o inventário da LIBRAS contou com a parceria da professora Ronice Quadros (UFSC); o do Hunsrückisch, com o professor Cléo Altenhofen (UFRGS); o pomerano teve apoio da UFF, da UFRGS, da prefeitura de Santa Maria de Jetibá (ES) e de Pomerode (SC).

Outro impacto importante é o envolvimento direto das comunidades. Os falantes atuam como depoentes e pesquisadores, e produtos específicos são desenvolvidos conforme suas demandas. É o caso do Vocabulário da Língua Pomerana (VOLBPomer), um aplicativo que permite ouvir e localizar palavras registradas durante a pesquisa, evidenciando suas variações regionais. Também houve o concurso de contos e poemas em Hunsrückisch, que resultou em um sarau e na publicação de um livro. Em Marechal Floriano (ES), por exemplo, a principal escola da cidade ou a desenvolver ações de valorização do multilinguismo, com repercussões em todo o estado.

Um aprendizado central que gostaria de destacar é o desejo genuíno dos falantes em transmitir suas línguas maternas às novas gerações. Contudo, esse desejo nem sempre encontra eco entre os jovens, cada vez mais atraídos por outras atividades e realidades. Enfrentar esse conflito é um desafio fundamental para o futuro das línguas brasileiras. Os inventários, ao mapear usos, circulação, vitalidade e atitudes linguísticas, oferecem uma base sólida para políticas públicas que visem a soluções coletivas e negociadas.

Leonardo Alves

Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de Santa Catarina na linha de pesquisa de Linguagem, Política e Sociedade. Graduado em Relações Internacionais pela Universidade de Santa Cruz do Sul.

Caroline Schirmer Götz

Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) na linha de pesquisa de Linguagem, Política e Sociedade. Professora licenciada em Língua Portuguesa e Literaturas pela mesma instituição, leciona aulas de PLE para falantes de árabe e anglófonos.

 

GT Geopolíticas do Multilinguismo entrevista Daniel Pimienta 74n27

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Por Simone Schwambach y Camila Muniz

Daniel Pimienta. Fonte: OBDILCI.

El doctor Daniel Pimienta es un francés nacido en Marruecos. Estudió matemática aplicada e informática en la Universidad de Niza (Francia). Trabajó 12 años con IBM Francia como arquitecto de sistemas de telecomunicación. En 1988, ingresó en la Unión Latina, en Santo Domingo, como asesor científico y responsable del proyecto de creación de una red para América latina (REDALC). Fue uno de los pioneros del tema de las TIC para el desarrollo, construyendo redes nacionales en Perú, República Dominicana y Haití. En 1993, crea la Fundación Redes y Desarrollo (FUNREDES), trabajando temas como brecha digital, alfabetización informacional, comunidades virtuales y diversidad lingüística en Internet. Ha sido Secretario Ejecutivo de la Red mundial para la diversidad lingüística (MAAYA) y, desde 2017, es responsable del Observatorio de la diversidad lingüística y cultural en la Internet (OBDILCI), retomando y actualizando las actividades de FUNREDES para crear indicadores de la presencia de las lenguas en la Internet.

Pimienta: OBDILCI prosigue las actividades de un proyecto de FUNREDES del mismo nombre que nació en 1998 y que yo dirigía. Cuando FUNREDES ceso sus actividades, en 2017, mantuve las actividades de ese proyecto y en secuencia formalicé la existencia de una nueva estructura asociativa para enmarcar ese proyecto. La asociación OBDILCI tiene existencia legal en Francia como asociación desde enero de 2021.

OBDILCI es una estructura pionera en el tema de la medición del espacio de las lenguas en la Internet, un tema con implicaciones fuertes en el más general de la promoción de la diversidad lingüística en la Internet porque sin indicadores fiables y perennes es muy complicado desarrollar políticas públicas acertadas. Sin embargo, ese campo cuenta con demasiado pocos actores académicos (y en general actores que no han permanecido) y ha sido abandonado a empresas de marketing pocas trasparentes y con datos donde los sesgos son generalmente no estudiados, a pesar de ser a menudo enormes.

OBDILCI ofrece datos mas confiables y apoyados por metodologías expuestas en el mínimo detalle y sometidas al escrutinio de los pares, en publicaciones científicas.  En margen de ese proyecto principal de producción de indicadores que permiten entender mejor la evolución de las lenguas en el ciberespacio, OBDILCI desarrolla proyectos coherentes con su misión de promover la diversidad lingüística y cultural en la Interne, los cuales están expuestos de manera sistemática en su sitio Web y en publicaciones.

Pimienta: El proyecto nace en 1998 cuando el presidente francés Chirac hace declaraciones, en una reunión mundial de la francofonía, que demuestran una percepción de una Internet totalmente dominada por el inglés y dejando ningún espacio para cambiar ese estado. En esos tiempos, éramos parte de un movimiento internacional de la sociedad civil, muy amplio, y quisimos demostrar, con datos duros, que la realidad era distinta de esta visión reductora y pesimista. A partir de ahí, los métodos han ido perfeccionándose y la diversidad medida extendiéndose, la dominancia anglófona extrema, siendo un fenómeno transitorio natural de un campo nuevo a la intersección de la informática y la ciencia, dos campos marcados sin duda con un sesgo anglófono mayúsculo. Hoy en día, nuestros datos reflejan una realidad donde la Internet es el espacio con la dosis de multilinguismo la más alta que jamás haya existido. Desde luego, si desafortunadamente las miles de lenguas con figuras de hablantes reducidas quedaron aun afuera, más del 95% de la población mundial puede interactuar con las redes con su lengua materna o segunda (se estima a 750 el numero de lenguas con existencia digital, solo el 10% de las lenguas existentes pero una cifra que recubre más de 96% de hablantes).

El impacto principal de nuestros trabajos es mostrar que el multilinguismo es la esencia del ciberespacio y que la creación de contenidos debe ser una tarea prioritaria para cada lengua, dadas las apuestas mayores planteadas, sea a nivel lingüístico, cultural, económico o geopolítico.

Una Web alojando conocimientos creados en mi lengua y reflejando mi cultura es posible y es mi deber de contribuir en esa dirección, sin dejarme impresionar con datos, a menudo sesgados, que pretenden desmotivarme afirmando una necesidad de pasar por la pretendida lingua franca del ciberespacio. Menos del 20% de la población mundial entiende el inglés, la lingua franca de la Internet es el multilinguismo, apoyado por recursos de traducción cada día más eficientes y disponibles.

Pimienta: No estoy suficientemente competente en el tema de los entrenamientos de los LLM con datos sintéticos para opinar con valor agregado; su pregunta me va a motivar a investigar más ese tema.

Mi relación con la informática es muy temprana, he sido estudiante de la primera maestría de informática creada en 1970 en la Universidad de Niza, algunos profesores aprendiendo el tema al mismo tiempo que lo enseñaban, lo que era sumamente pedagógico. Desde entonces he seguido de cerca, en mis estudios y luego en mi trabajo, los progresos de esa disciplina. ¡Los dos subtemas de la inteligencia artificial y de la traducción por programa podrían haber sido las promesas frustradas las más espectaculares de la informática entre 1970 y 2010! Los progresos fueron muy lentos y los resultados, tanto de los mal llamados “sistemas expertos” y de los complejos y caros programas de traducción bastante mediocres. De repente, en los últimos años, con la introducción de totalmente nuevos ángulos de abordaje (aprendizaje profundo, algoritmos neuronales, modelos de lenguas) el paradigma cambio. Los progresos se aceleraron y llegaron a productos espectaculares y al alcance de todos. Nadie puede negar hoy en día que más que espectaculares son extraordinarias las nuevas herramientas de inteligencia artificial y especialmente prácticas las ayudas de traducción que se hacen más versátiles (traducción de sitio web, interpretación en YouTube, …). Estamos viviendo un momento histórico para los dos temas y para la intersección de esos dos temas, un momento que plantea retos tan extraordinarios como las mismas herramientas, retos éticos en mayoría:

  • ¿Como dar los debidos créditos a las fuentes abiertas que usan sin restricción los programas de IA, y remunerar debidamente las fuentes no abiertas que puedan usar?
  • ¿Como asegurar que las fuentes reflejan debidamente la necesaria diversidad lingüística y cultural y no se transforman en un agente hiper poderoso de aculturación?
  • ¿Como controlar y superar los sesgos que vienen dentro de las fuentes seleccionadas?
  • ¿Como lograr que las personas que hacen uso entienden que en última medida deben guardar el control de los productos y asegurarse de que los productos no sean parte de las alucinaciones que son un efecto colateral natural y por el momento inevitable de los modelos de lenguas?
  • La lista no se termina ahí y es significativo que la encuesta conducida por la universidad Elon hacía más de 300 expertos del tema y de temas adyacentes, y a la cual participe con una contribución en la línea de sus preguntas, sobre el tema de que hay que esperar de la IA en 2040, arrojo resultados donde una forma de pesimismo emerge, así como un grito consensuado para la urgencia e importancia de regulaciones.

Pimienta: El predominio del inglés en la Internet es parte de la historia; Internet es cada día más un ámbito multilingüe y donde los contenidos tienden a ser proporcionados a la cantidad de hablantes de cada lengua. La situación es distinta para las herramientas de la IA, aunque un multilinguismo, aun no tan equilibrado, se manifiesta de manera temprana. Es primordial que cada lengua vea actores que luchan para que su lengua tenga el espacio que merece en esta nueva carrera para instrumentos de la IA.

Todo lo que acabo de expresar es cierto para las lenguas que poseen números de hablantes (L1 o L2) que se cuentan en millones. No es así para las lenguas cuyo numero de hablantes es bajo, y ahí los retos son distintos y a veces dramáticos.

Es útil tener una idea de la amplitud del problema: mas del 80% de las lenguas tienen menos de 100 000 hablantes y el factor económico juega un papel de barrera alta para las recomendadas acciones.

LENGUAS NUMERO PORCENTAJE
Con más de 10 millón de hablantes 125 1.6 %
Con más de un millón de hablantes 447 6 %
Con menos de 1 000 000 hablantes 7158 94 %
Con menos de 100 000 hablantes 6157 81 %
Con menos de 10 000 hablantes 4292 56 %
Con menos de 1 000 hablantes 2310 30 %
TOTAL 7615 100 %
Fonte: Ethnologue Global Dataset #27, 2024, antes de reagrupar en macro-lenguas.

Para compensar el pesimismo que puede resultar de esas cifras crudas, es importante entender que más de 44% de la población mundial entiende mas de una lengua, y con el juego de las segundas lenguas, las 362 lenguas de más de un millón de hablantes[1] permiten que 96% de la población mundial tienen potencial a la Internet en su lengua materna o su segunda lengua.

Existen muchas familias de lenguas que no se han atribuido una macro-lengua, y las cifras imponen tratarlas de la misma manera que las macro-lenguas. Así, aunque la lengua Maya Yucateco no llega a 1 millón de hablantes, la familia Mayense, que incluye dos lenguas de más de un millón de hablantes, Quekchí y Quiché, reagrupa 31 lenguas por más de 6.5 millones de hablantes. Al igual, la familia Otomangues reagrupa 179 lenguas por un total de mas de 1.7 millones de hablantes, aunque ninguna de las lenguas que la componen llegue a 100 000 hablantes.

El reagrupamiento por familia es una necesidad para afrentar esos retos.

Pimienta: En la respuesta precedente se considero la necesidad de reagrupar lenguas por familias para llegar a cifras críticas que permiten bajar las barreras económicas. Para los países del Sur, una estrategia análoga debe, en la medida del posible, ser considerada: unir esfuerzos entre países que presentan características que lo permiten; el primer criterio que viene a la mente es obviamente regional. América latina debe entender ese reto como un reto regional antes que nacional.


[1] Esa cifra, a diferencia de la del cuadro precedente, toma en cuenta las macro-lenguas que reagrupan en una sola lengua muchas otras lenguas.

Simone Schwambach

Professora auxiliar do Departamento de Linguística e Estudos Orientais da Universidade Complutense de Madri (UCM). É licenciada em Letras pela Universidade de Caxias do Sul e tem um mestrado em ensino de português para hispanófonos. Atualmente é doutoranda do programa de Linguística Teórica e Aplicada da UCM em cotutela com a UFSC.

Camila Muniz

Graduanda em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas (Bacharelado) na UFSC. Possui experiência em tecnologias educacionais e interesses de pesquisa em política linguística, diversidade linguística e inteligência artificial.

 

Íkala, Revista de Lenguaje y Cultura, Vol. 29 No. 3 (2024): Políticas e práticas para o multilinguismo global 4qa3b

Vol. 29 No. 3 (2024): Políticas e práticas para o multilinguismo global 642q2o

Esta edição temática é organizada em conjunto pela Íkala, Revista de Lenguaje y Cultura e a Cátedra UNESCO de Políticas Linguísticas para o Multilinguismo (UCLPM). Tivemos a honra de contar com Gilvan Müller de Oliveira (Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil), Umarani Pappuswamy (Instituto Central de Línguas Indianas, Manasagangotri, Mysuru, Karnataka, Índia) e Martha Lucía Pulido Correa (Universidad de Antioquia, Colômbia) como editores convidados. Acompanhando nossa edição Babeliana, há uma amostra do jovem pintor colombiano Harrison Tobón, cujas pinturas ilustram lindamente nossas seções. Para saber mais sobre seu trabalho, clique aqui .
Publicado: 2024-10-17

 

 

Editorial

No mundo globalizado de hoje, o multilinguismo não é mais simplesmente um reflexo da diversidade linguística, mas um mecanismo crítico que molda as paisagens sociais, econômicas e políticas. Com níveis sem precedentes de mobilidade global, migração e interação transnacional, o multilinguismo tornou-se uma norma e uma necessidade para indivíduos e instituições. A linguagem é o meio pelo qual as identidades são formadas, o poder é negociado e as heranças culturais são preservadas, tornando o multilinguismo um componente essencial da vida moderna. Como tal, as práticas linguísticas vão além da mera comunicação e servem como ferramentas de empoderamento, inclusão e, em alguns casos, exclusão. A gestão do multilinguismo tem emergido como um tema central nas políticas linguísticas contemporâneas, seja para suprimi-la, a partir de uma perspectiva de linguagem-como-problema, seja para incentivá-la, a partir da perspectiva da língua-como-direito-ou-língua-como-recurso (Ruiz, 1984). Compreendemos cada vez mais a relação ativa entre os dois conceitos – multilinguismo e políticas linguísticas – para a promoção de línguas e repertórios linguísticos, e que o multilinguismo é, nesse sentido, um trunfo para a construção de nações plurais, pós-nacionais e, em última análise, para a formação de um mundo multipolar. Historicamente, os estudos linguísticos têm sido dominados por perspectivas do Norte Global, particularmente as da Europa e da América do Norte. Esses pontos de vista muitas vezes priorizaram ideologias monolinguais, padronização e pureza linguística. Sob essa estrutura, as realidades multilíngues das pessoas em ambientes urbanos multiculturais são vistas através das lentes da separação linguística, onde as línguas são tratadas como entidades distintas com fronteiras claras (Makoni & Pennycook, 2007).  A suposição é que a linguagem opera dentro de sistemas estruturados que podem ser perfeitamente definidos e controlados. (trecho extraído do editorial da revista)

e o link para a revista:

Vol. 29 No. 3 (2024): Policies and Practices for Global Multilingualism | Íkala, Revista de Lenguaje y Cultura (udea.edu.co)

Oficina ‘O Atlas UNESCO das Línguas do Mundo: As Línguas Brasileiras’  Oficina Atlas UNESCO Brasil 2024 t5w6a

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Oficina ‘O Atlas UNESCO das Línguas do Mundo: As Línguas Brasileiras’ 1b1x55

 Oficina Atlas UNESCO Brasil 2024

Esta oficina tem como objetivo apresentar o Atlas UNESCO das Línguas do Mundo, uma iniciativa das Nações Unidas voltada para mapear e promover a diversidade linguística global. O Atlas tem como base metodológica um questionário central que inclui informações sobre aspectos relacionados ao estatuto, à filiação genética, às funções e aos usuários das línguas. Ao final da oficina, os participantes (pesquisadores) terão a oportunidade de sanar dúvidas sobre o questionário e aprimorar sua compreensão sobre as questões e a relevância do Atlas UNESCO. Data: 05/10/2024 Horário: 10h (horário de Brasília) Modalidade: Remota

Página oficial da atividade: Geopolimulti

Clique para se inscrever aqui:  Inscricoes UFSC

 

 

A UFSC no Fórum Municipal dos Países BRICS em Moscou (IMBRICS) 1j3m2k

 

 

Cátedra UNESCO em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo (UCLPM) da UFSC, representada pelo Prof. Gilvan Müller de Oliveira (DLLV), participa nesta quarta-feira, 28 de agosto, do Seminário Preservação e apoio ao multilinguismo dos povos indígenas. Melhores práticas da Federação Russa e dos países BRICS”, promovido pela Agência Federal de Assuntos Étnicos da Federação Russa no âmbito do grande Fórum Municipal dos Países BRICS em Moscou

 

Na ocasião, o Prof. Gilvan apresentará uma contribuição sobre a situação do multilinguismo no Brasil – um dos fundadores do Grupo de Países dos BRICS – centrada n’ “As Línguas Indígenas Brasileiras e sua Equipagem para o Ciberespaço”.

 

A Cátedra UNESCO LPM / UFSC (2018-26), é responsável pelos dados brasileiros do Atlas UNESCO das Línguas do Mundo, em andamento, que inclui informação sobre o uso das línguas brasileiras minorizadas na Internet e permite constatar a sua incipiente preparação, até o momento, para o ambiente digital.

A principal proposta será a da criação, no âmbito da Organização e da Presidência do Brasil em 2025, do Quadro Comum de Referência das Línguas dos BRICS (QuaLinBRICS), que permitirá acompanhar a situação das línguas de cada país, fomentar a sua equipagem tecnológica e o seu ensino no âmbito nacional e internacional em uma estratégia de consenso entre os países membros.

Leia a nota na fonte: Secretaria de Relações Internacionais | Office of International Relations (ufsc.br)


Saiba mais sobre a Cátedra em:

https://orbicom.ca/brazil-florianopolis/

. Atlas UNESCO das Línguas no Mundo

https://en.wal.unesco.org/

𝐀𝐁𝐄𝐑𝐓𝐔𝐑𝐀 𝐃𝐎 𝐂𝐔𝐑𝐒𝐎 “𝐆𝐄𝐋𝐏𝐈: 𝐆𝐄𝐎𝐏𝐎𝐋Í𝐓𝐈𝐂𝐀 𝐃𝐀 𝐈𝐍𝐓𝐄𝐑𝐍𝐄𝐓 𝐌𝐔𝐋𝐓𝐈𝐋𝐈𝐍𝐆𝐔𝐄 4j1p3k

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Encontram-se abertas, de 29 de julho até 10 de agosto, as candidaturas para o curso de formação especializada “GELPI Geopolítica da internet Multilingue – Presença e promoção da língua portuguesa no ciberespaço”.

 

Curso de Formação Especializada GELPI Geopolítica da Internet Multilingue

1ª. Edição: 02 de set. a 18 de out. de 2024

O ciberespaço caracteriza-se cada vez mais como um território geopolítico de grande
relevância para a governança, a economia e as relações culturais. Neste território são
menos notáveis e importantes as fronteiras dos países, dada a permeabilidade da
Internet, e mais importante as fronteiras entre as línguas, que representam mercados
específicos para a circulação de bens econômicos e culturais e para o exercício da
influência e do poder político e militar.
As línguas abrem ou fecham espaços de circulação para milhões de
pessoas/cidadãos/utilizadores (conforme o ângulo em que olhamos), dependendo da
proficiência linguística de cada um, e orientam fluxos de diversos tipos que podem ser
planejados/orientados em certa medida pela ação de um Estado ou mais Estados que
atuam na gestão da língua.
O curso estabelecerá um diálogo entre o desenvolvimento da Internet multilingue e o
campo de gestão da língua portuguesa, levando em conta o seu valor diplomático e
económico, e realizará uma avaliação do estado da arte da equipagem da língua
portuguesa para os desafios vindouros, com foco na revolução anunciada no campo das
inteligências artificiais.

 

As inscrições devem ser feitas mediante o preenchimento do formulário abaixo!

https://forms.gle/hbJHfu7G7pyB7zUJ7

Confira o Aviso de Abertura e o Programa do referido curso de formação aqui!

https://iilp.lp.org/gelpi-geopolitica-da-internet…/

e aqui o programa do curso:

Curso GELPI Programa Vfinal[1]

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I Seminário de Gestão em Educação Linguística da Fronteira do MERCOSUL

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